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Amor Líquido - Sobre a fragilidade dos laços humanos: Livro de Zygmunt Bauman
Por Claudia Bonfim


O autor consegue, ao nosso ver, fazer um leitura realista dos relacionamentos modernos e pós-modernos, num mundo que ele identifica como líquido, em que as relações se estabelecem e se findam com extraordinária fluidez, marcadas pela ausência de comprometimento com o outro, onde as pessoas gostam de estar juntas apenas para sentir prazer, e como o prazer é momentâneo, em pouco tempo as relações são trocadas por outras. Aponta também, que há aqueles que vivem um relacionamento estável, mas sem excluir a possibilidade de viver conjuntamente outros relacionamentos. Que convivem juntos, mas abrem possibilidades de outros relacionamentos e há aqueles que não dividem o mesmo espaço, porque acreditam que precisam preservar sua liberdade, evitando a rotina e os conflitos da vida a dois, sem perceber que isto pode se configurar em uma relação que seja mais fácil romper, cada um já está no seu próprio espaço, ou seja, não tem o mesmo nível de comprometimento de um relacionamento de convivência comum. O autor coloca que viver desta forma é como procurar um abrigo sem vontade de ocupá-lo por inteiro.

Bauman ainda analisa a busca virtual de relacionamentos, mostrando que a virtualidade tem ganhado mais espaço que encontros concretos, e aponta que com o crescimento das redes virtuais, a intimidade pode sempre escapar do risco de um comprometimento, e de um envolvimento real que a possibilidade de estar sempre disponível para outras aventuras. Bauman mostra que na sociedade de hoje há um propensão maior à vivência de relacionamentos descartáveis, que ilusoriamente encenam episódios românticos e líquidos, flexíveis.

Bauman aponta ainda que, na era do individualismo e do consumismo, estamos mais bem aparelhados para disfarçar um medo antigo da solidão, entre celulares e notbooks, vivemos uma solidão ilusoriamente acompanhada, que teme: o amor por outra pessoa e comprometimento. 

Ainda retrata duas contradições centrais: de um lado a “vontade de ser livre” inerente à constante busca pela individualização, e de outro constante a busca por alguém ideal, como se existisse uma pessoa perfeita. Mas a pessoa perfeita não existe, existe a pessoa certa. Capaz de nos compreender, respeitar e amar. Mas, nessa busca do ideal, que ao mesmo tempo quer sua liberdade, a velocidade com que as pessoas são trocadas por outras é quase inacreditável. Na sociedade pragmática e utilitarista as coisas e relações não mais são feitas para durar. Se a relação não está boa, parte-se para outra, isso quando de fato se consolida um relacionamento, pois muitas vezes, a busca começa e termina em uma única relação sexual. 

Bauman afirma, que nunca houve tanta procura para relacionar-se com alguém, mas as relações são frágeis, começam e terminam na mesma velocidade. Pois, na sociedade consumista globalizada há sempre novos “produtos”, mais modernos, atraentes e estimulantes para serem consumidos. Assim, Bauman trata das conseqüências provocadas por uma sociedade que sustenta a busca pela individualização, pela liberdade em detrimento da vida afetiva estável. 

Considera ainda que, mesmo as relações afetivas são muito ambivalentes; todos querem a segurança de um amor eterno, mas desejam também voar e ter o pássaro que voa enquanto mantém o outro seguro nas mãos. A insatisfação afetiva ou sexual, muitas vezes levam os parceiros à buscar outras experiências e relações, consentidas inclusive. Algumas vezes acreditando que isto pode inclusive, salvar ou melhorar seus relacionamentos conjugais. Ou seja, são relações frágeis e flexíveis, advindas segundo Bauman, especialmente da racionalidade da sociedade moderna e globalizada. 

Enfim, em nossa análise, consideramos que o livro nos leva a refletir sobre relações descartáveis, sem vínculo seguindo a lógica do consumismo. Numa sociedade onde a maioria das pessoas estão “disponíveis”, acredita-se que o que importante a quantidade e não a qualidade de relações. Disputam-se quantas pessoas beijaram em uma noite, quantos parceiros sexuais conseguem em um dia, ou em uma semana, o outro é visto como um produto/objeto disponível para consumo. E geralmente as pessoas amanhecem o dia em suas camas, casas, e solidões vazias. Alguns sentem-se culpados por ter sido usados, outros já descartam a memória, e seguem como se nada tivesse acontecido, afinal em suas perpeções e sensações vazias, nada aconteceu mesmo, pois o que não tem significado, nem afeto, nada representa de fato. E seguem, na busca insaciável...
Disponível em http://educacaoesexualidadeprofclaudiabonfim.blogspot.com.br/2010/08/amor-liquido.html?spref=bl